quarta-feira, 4 de junho de 2014

Capítulo II: Afinal, não somos todos sempre monstros, às vezes?

Assisti e joguei recentemente dois títulos com histórias e abordagens diferentes, mas que acabam tratando da mesma discussão: a moralidade e seus questionamentos. 

Disponível na Netflix, o filme Precisamos Falar Sobre o Kevin (2011) é propositalmente incômodo de assistir. Entenda-se que não é sobre a violência gratuita, e até as cenas que seriam mais chocantes neste aspecto não são explícitas em nenhum momento, deixando claro que a questão aqui é outra. Acompanhando a trajetória de uma mãe após um crime trágico, friamente arquitetado e executado por seu filho Kevin, a narrativa é desenvolvida em flashbacks e nos apresenta a desconfortável e distante relação entre mãe e filho, desde seu nascimento até a adolescência. E a sensação de desconforto da mãe é passada de modo extremamente eficiente, não me lembro de ter sentido tanto incômodo em um filme neste sentido. Não vou entrar em maiores detalhes (sou ativista contra spoilers), mas alguns aspectos da relação doentia e da inteligência assustadora e maléfica do Kevin são trabalhados de modo mais destacado, e a grande questão que fica é até que ponto uma mãe (ou pai, obviamente) é capaz de influenciar o caráter e a personalidade de um filho?


Comecei e ainda estou jogando Always Sometimes Monsters (2014), jogo da Vagabond Dog para PC disponível no Steam. Desenvolvido com o uso de RPGmaker, é mais um título que aproveita o recente sucesso dos jogos indie na indústria dos videogames. Simples e com limitações técnicas e narrativas, trata-se de um game totalmente baseado na história, seus personagens e nas escolhas que fazemos durante sua construção. Não espere ação, combates com chefões ou algo do gênero aqui, e se você é daqueles que só joga Fifa ou Call of Duty pode parar de ler (se bem que, neste caso, acho que você nem estaria lendo este post, de qualquer forma). Depois de escolher e nomear seu personagem, você se encontra em uma festa com seu namorado ou namorada e descobre que seus planos para o futuro são promissores: você está para assinar um contrato com um editor para lançar seu livro e parece ter encontrado a pessoa certa em seu relacionamento. Depois disto, ocorre um salto de um ano e tudo saiu um completo desastre. O livro não foi escrito, você está sem dinheiro para o aluguel e separado da pessoa que acredita ser seu par ideal. A partir dai, as escolhas para sobreviver envolvem questões éticas para recuperar sua vida financeira e profissional e até onde você estaria disposto a ir para recuperar o amor de sua vida. Apesar de ainda ser um jogo, com mecânica simples e superficial, a reflexão sobre sua própria personalidade e índole é induzida e você terá que conviver com as escolhas que tomar durante a história. Afinal, não somos todos sempre monstros, às vezes?