segunda-feira, 15 de setembro de 2014

Capítulo IV: Da solidão e da filosofia em quadrinhos.

Alguns autores usam seus personagens como meio para transmitir suas dúvidas, medos e questionamentos sobre a vida e o universo. Calvin e Haroldo, do genial Bill Watterson, é um exemplo marcante e de grande sucesso desta filosofia em quadrinhos em que, a partir do ponto de vista de um menino, o comportamento e os conceitos adultos são analisados e questionados (e sempre desobedecidos pelo inquieto Calvin).
No Brasil, nossa infância teve alguns exemplos nas páginas das revistas da Turma da Mônica. Em entrevistas, Maurício de Sousa diz que alguns de seus personagens, como Piteco, Horácio e o Astronauta, foram criados para expressar suas idéias e impressões sobre o mundo, as pessoas e a natureza. Destes, as histórias que mais me marcaram foram, sem dúvida, as aventuras espaciais do Astronauta, embarcado em sua nave e trajes esféricos para explorar o universo sozinho. Lembro curiosamente de uma história em que ele encontra um bebê no espaço e o adota em sua nave. A criança, por ser de outro planeta (apesar de sua aparência humana), apresenta um crescimento acelerado e, em poucos dias, começa a andar e falar. Em pouco tempo, o Astronauta vive a experiência de ser pai, avô e chora ao ver seu filho adotivo morrer idoso. Durante este breve período, os dois conversam sobre as alegrias, expectativas e sonhos durante uma vida tão curta, com o vocabulário simples e leve de um gibi para crianças.  



Astronauta: Magnetar é uma Graphic Novel da Panini Comics lançada sob o selo Graphic MSP, que apresenta uma série de reinterpretações dos personagens clássicos da Turma da Mônica por artistas nacionais. O autor e artista de Magnetar, Danilo Beyruth, preserva a personalidade e as características da versão infantil do Astronauta, como sua solidão e a saudade constante de sua ex-namorada, amigos e familiares que raramente visita em uma cidadezinha do interior. Este conflito é a base da história, com o sofrimento causado por seus sentimentos divididos entre a vontade de conhecer o universo e visitar lugares inexplorados pelo homem e a convivência entre os seus na terra. Com algumas liberdades científicas, a narrativa apresenta uma temática adulta e a luta do Astronauta para manter a sanidade mental em situação de sobrevivência ao sofrer um "naufrágio" espacial. A arte é destaque da obra, apresentando ilustrações belíssimas e um design renovado e futurista para a nave e os trajes espaciais. Uma leitura recomendada tanto para fãs e nostálgicos quanto para novos leitores. 


O Astronauta original, criado por Maurício de Sousa em 1963.