terça-feira, 3 de fevereiro de 2015

Capítulo VII: Em que discutimos a estranha vida dos adolescentes.

Adolescentes em busca do seu lugar no mundo. Duas obras que vi/joguei neste início de 2015 baseiam-se neste tema e em personagens que atravessam essa fase de nossas vidas em que coisas triviais e mundanas, como passar vergonha em uma festa ou aparecer desarrumado na frente daquela paquera (sim, aqui entreguei muito minha idade), parecem ter o peso de uma verdadeira catástrofe. Uma delas é o lançamento Life Is Strange, jogo curiosamente distribuído pela Square Enix, e a outra é o delicioso clássico dos anos 80 dirigido por John Hughes: Clube dos Cinco (The Breakfast Club). 

Clube dos Cinco é um filme de 1985 com diálogos e temática surpreendentemente atuais, o que me leva a considerar que, apesar do avanço da tecnologia e da quebra de alguns tabus, as tristezas e dificuldades de ser um adolescente não mudaram muito desde então. Disponível na Netflix, o filme certamente é lembrado por aqueles que não perdiam a Sessão da Tarde comendo um delicioso queijo quente. Criticado na época por algumas de suas obras, John Hughes é certamente o diretor que melhor soube retratar a sociedade e a cultura americana daquela década, particularmente a vida dos alunos do High School. Quem for assistir ao filme pela primeira vez poderá estranhar um pouco o ritmo, já que a narrativa é centrada em um único cenário e em diálogos entre apenas sete personagens.     
O cdf, o atleta, a popular, a esquisita e o encrenqueiro. Cinco estereótipos que todos conhecemos no colégio e com os quais muitos de nós conseguimos nos identificar passam um Sábado em detenção no colégio. Apesar da sinopse simples e dos clichês, a grande qualidade do filme está no desenvolvimento dos personagens e em sua tentativa de justamente quebrar esta imagem construída sobre sua persona. No convívio de uma tarde, eles encontram a oportunidade para desabafar e trocar confidências sobre questões pessoais como sexo, uso de drogas e a pressão para corresponderem as expectativas da família, dos amigos e de si próprios, assim como para discutir o que querem construir em suas vidas adultas. 


                                
                                A trilha sonora do filme é uma das mais icônicas dos anos 80.


O recém-lançado Life is Strange bebe diretamente da fonte das séries da Telltale, produtora de jogos episódicos como The Walking Dead e The Wolf Among Us, e de títulos como Heavy Rain, do PS3. Focando na narrativa e em escolhas que afetarão seus resultados, este primeiro episódio poderá afastar aqueles jogadores que buscam apenas ação e tiroteio com ritmo acelerado, mas se você gostou de algum destes outros jogos sabe o que esperar aqui. Maxine Caufield é uma garota idealista de 18 anos que consegue uma vaga em uma conceituada universidade de sua cidade natal para estudar fotografia, sua grande paixão. A volta para a pequena cidade do Oregon, no entanto, se revela muito mais complicada que o esperado. Enquanto tenta se adaptar a vida universitária e ao seu delicado ecossistema, ela testemunha um assassinato no banheiro feminino e descobre o inesperado poder de voltar no tempo. Ao testar seus novos poderes e salvar a garota do seu violento destino, os eventos desencadeados são inesperados e sua busca por respostas se inicia. 
O episódio 1: Chrysalis se apresenta mais como um tutorial e introdução ao universo e aos personagens, mas a base para a história a ser desenvolvida é promissora. Com um total de 5 episódios a serem lançados durante o ano, algumas escolhas de Max são demasiadamente simples e maniqueístas, e o jogo se destaca justamente nas escolhas em que não parece haver o certo e o errado e ficamos nos questionando sobre possíveis consequências de nossos atos. E é curioso observar como a adolescência atual não se diferencia muito daquela retratada em Clube dos Cinco nos anos 80, adicionando apenas as redes sociais e os smartphones a fórmula. O maior ponto negativo é a falta de localização, sendo que a ausência de legendas em Português se torna uma barreira em um jogo baseado em diálogos e narrativa. 


                                  
                                       A música é parte importante da vida de Max em Life is Strange. 

Sinto falta do idealismo da adolescência e da sensação que temos tempo e energia para mudar o mundo, mas rever e jogar estas obras também me fizeram lembrar de como podia ser terrível acreditar que ninguém nos entende e nos respeita. Se você é adolescente e por acaso está lendo isso, acredite que nada é tão significativo quanto parece neste momento e que as coisas melhoram (muito) na vida adulta. De resto, fico contente por ter sobrevivido a esta fase sem maiores traumas. :)   

  

  
    




                 

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